quinta-feira, 28 de abril de 2011

Manias do Transtorno Bipolar do Humor

O transtorno bipolar do humor é uma doença crônica e recorrente, associada a altos custos econômicos e sociais, incluindo perda de produtividade, piora de qualidade de vida e suicídio. 

Anteriormente, o transtorno bipolar era considerado como doença de bom prognóstico, com boa recuperação entre os episódios. No entanto, cada vez mais tem sido observado que esses indivíduos sofrem de disfunções social, marital, ocupacional e cognitiva, mesmo quando se encontram, supostamente, recuperados.

Esta patologia usualmente se inicia entre os 20 e 30 anos de idade, mas cada vez mais se reconhecem casos em adolescentes e crianças, situação na qual o diagnóstico pode não ser fácil para o psiquiatra especialista na infância e adolescência. A doença pode começar por um episódio de depressão ou de mania. Na mulher, o sintoma inicial mais comum é um episódio de depressão; já os homens iniciam a doença, em geral, com episódio de mania.

O transtorno bipolar não é novo. Ele vem sendo identificado há muito tempo, em diversas épocas, às vezes com distintas denominações, como: Areteus da Capadócia (150 AC): Melancolia, Mania; Falret & Baillarger (1854): Loucura Circular; Griesinger (1867): Transtorno Mental Unitário; Kahlbaum (1882): Ciclotimia; Kraepelin (1899): Psicose Maníaco- Depressiva. Pode ser dividido em tipo I e tipo II, conforme os sistemas de classificação mais aceitos como os da Classificação Internacional de Doenças, atualmente na sua décima edição (CID-10), elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e classificação diagnóstica e estatística dos transtornos mentais e do comportamento da Associação Americana de Psiquiatria, atualmente na sua quarta edição revisada (DSM-IV-TR).

No tipo I, mais grave, são observados episódios de mania alternados com episódios depressivos e também períodos de relativa normalidade, denominados de eutimia. As fases maníacas ou os estados mistos (estados em que ocorrem sintomas de mania e depressão concomitantemente) não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem tampouco as depressivas por maníacas. Muitas vezes um indivíduo que teve o episódio anterior de mania pode vir a apresentar um novo episódio maníaco, e o mesmo é válido para depressão.

Em geral, os indivíduos com a sequência depressão - mania tendem a ser mais difíceis de tratar e podem particularmente responder mal ao Lítio, padrão-ouro no tratamento da enfermidade bipolar. Há casos de pacientes que terão em suas vidas mais episódios maníacos do que depressivos; alguns outros irão relatar um ou dois episódios de mania e inúmeras fases depressivas.

O transtorno bipolar é uma condição recorrente. Aproximadamente 90% dos indivíduos que apresentam um episódio maníaco terão uma recorrência nos próximos anos. O diagnóstico costuma demorar de 8 a 10 anos para ser feito. No transtorno bipolar tipo I, podem ocorrer sintomas como delírios e alucinações, tanto na fase de mania quanto na de depressão, podendo o diagnóstico ser confundido com o de outras doenças, como esquizofrenia. Se um indivíduo apresenta quatro ou mais episódios da doença em um ano ele é considerado um ciclador rápido.

DIAGNÓSTICO DIFÍCIL 

No transtorno bipolar tipo II, ocorrem episódios depressivos e hipomaníacos, em geral de duração mais curta e menos frequentes do que as fases depressivas. Muitas vezes, o diagnóstico é difícil, podendo demorar cerca de 13 anos. A hipomania assemelha-se à mania, contudo é um quadro com menor intensidade sintomatológica. Muitos indivíduos com transtorno bipolar tipo II passam anos com um tratamento inadequado, utilizando antidepressivos (o que piora o curso da doença), ao invés de estabilizadores do humor. 

Na hipomania, ocorrem hiper-reatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido/sexo, e impaciência. Por definição, a hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não requer hospitalização e o prejuízo ao paciente não é tão grande quanto na mania.

A demora no diagnóstico do transtorno bipolar pode se dever a dificuldades de identificação dos episódios hipomaníacos (esse episódios podem ser tão breves com duração de 4 dias, por exemplo). O paciente, assim como seus familiares e amigos, podem considerar esses períodos de “maior extroversão” como normais e até desejáveis. Contudo, o não tratamento desses indivíduos pode, com o tempo, levar a prejuízos emocionais, morais e materiais para eles próprios e seus familiares.

A mania, por ser uma condição mais grave do que a hipomania, requer tratamento vigoroso, que deve ser realizado em local seguro, no qual o paciente não tenha estímulos excessivos. 

O objetivo principal, aqui, é o da resolução dos sintomas da forma mais rápida e segura possível. Os antipsicóticos podem acelerar a respostcelera respo a terapêutica na mania, quando associados a um estabilizador de humor. O uso de antipsicóticos atípicos (ou antipsicóticos de nova geração) tem sido, em geral, preferido.

Importância especial deve se dar ao reconhecimento dos estados mistos. Episódios mistos são encontrados em 30% a 40% dos indivíduos com transtorno bipolar. Os indivíduos em estado misto apresentam-se com maiores níveis de ansiedade, taxas aumentadas de psicose e suicídio e pior prognóstico. 


(Eduardo Pondé Sena. Publicado na Revista Psique)


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