sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Psicoterapia ajuda quem sofre com problemas emocionais

Falar sobre sentimentos com um profissional facilita a organização de emoções




A palavra terapia vem do grego therapeúein que tem o significado de assistir, cuidar. Mas, o que exatamente significa fazer psicoterapia? Como falar sobre questões pessoais a uma pessoa estranha, e como confiar que ela pode ajudar a resolver o problema?

Fazer psicoterapia nada mais é do que falar sobre si mesmo, compartilhar com um profissional sentimentos e emoções, tanto atuais, quanto relacionadas a vivências passadas. A importância do passado fica mais clara através da justificativa dopsicanalista Contardo Calligaris, em seu livro Cartas a um Jovem Terapeuta: "Não é porque os eventos da infância sejam mais marcantes do que os de hoje, mas, porque os eventos de hoje tomam relevância e sentido a partir do nosso passado e, portanto, da nossa infância." 

Existem atualmente, diversas abordagens da psicologia que pensam as psicoterapias de diferentes formas e a partir de técnicas e eficácia diversas. Entretanto, a proposta deste artigo não é discorrer sobre cada uma delas, mas sim, possibilitar reflexões sobre uma dúvida frequente nos consultórios: "Como a psicoterapia pode ser funcional?". 

A partir do entendimento que se tem sobre a junção entre os pensamentos e os sentimentos e do quanto um interfere no funcionamento dooutro, podemos entender o "falar sobre si mesmo" como tendo uma função organizadora, ou seja, ao falar a pessoa está entrando em contato com o seu mundo interno e, ao se ouvir, organiza as suas idéias, este processo, por si só, já garante efeitos terapêuticos. 

Além do mais, a vivência deste contato pode trazer à consciência certos conteúdos desconhecidos para a própria pessoa que fala. É através do manejo destes conteúdos que o terapeuta busca provocar reflexões, e permitir que osujeito pense sobre pontos subjetivos a respeito de si mesmo, relacionando-os as emoções sentidas e possibilitando, a experiência de autoconhecimento. A pergunta agora se trata, então, de entender para quê se faz necessário o autoconhecimento?  

Acreditamos que somente através do reconhecer em si as reações possíveis diante de situações adversas é que se pode objetivar mudança de comportamento e diminuir o sofrimento causado por questões como, por exemplo, ansiedade, angústia, medo, oscilações de humor, estresse, tristeza, alegria entre outros. Desta forma, uma pessoa que se conhece, emocionalmente, poderá se sair melhor de situações conflitantes, se adaptar com maior facilidade em condições diversas e vivenciar de forma mais prática conteúdos traumáticos.

Biologicamente falando, existem estudos neurológicos que mostram que sessões de psicoterapia modificam conexões neurais e padrões decomportamento. Isso por que, quem faz psicoterapia tem mais atividade nasregiões cerebrais do córtex pré-frontal, área relacionada a cálculos, pensamentos práticos e ações que tomamos conscientemente. O que na prática podetrazer alívio de sintomas relacionados a recordações aflitivas que resultam emcomportamentos inadequados e pensamentos desorganizados.

Devemos ressaltar que independente da abordagem da psicoterapia escolhida o mais importante quando se pensa em eficácia e eficiência do tratamentopsicológico está na vontade do paciente em querer entrar em contato com seus conteúdos internos, mudar seus hábitos e comportamentos e se desenvolver de forma madura.

Outro fator relevante é a relação que se estabelece junto aoterapeuta e como a mesma se desenvolverá no decorrer do tratamento. Em resumo, a psicoterapia se encarrega de fazer o cliente compreender o que o(a) motiva apraticar certos comportamentos e pode ajudar, através do autoconhecimento,o entendimento das necessidades do(a) mesmo(a) podendo, inclusive prevenir doenças psicossomáticas e alguns transtornos mentais.

Fonte: Michelle Cristina da Silveira - Psicóloga


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Maternidade

Indico o livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra" para quem é ou pretende ser mãe e também para profissionais que trabalham com este tema, realmente é uma outra maneira de olhar a maternidade e a mulher. São reflexões que valem a pena serem  olhadas mais de perto, como psicóloga e agora mãe me fez rever conceitos, preconceitos e minha atuação como psicoterapeuta.


"O FILHO É O REFLEXO DA SOMBRA DA MÃE”

Durante os primeiros dois anos de vida, os bebês refletem as emoções e os sentimentos inconscientes de suas mães.

Um tempo de revelações, de experiências místicas, uma oportunidade para o auto conhecimento, para mergulhar nos aspectos ocultos da psique feminina. Um tempo em que as luzes e sombras emergem e explodem como um vulcão em erupção. É a loucura indefectível e um “não reconhecer-se” a si mesma, porque, desde o momento do parto, a alma da mulher se desdobra e se torna mamãe-bebê, bebê-mamãe ao mesmo tempo.

Isso é também a maternidade, segundo a inovadora e certamente polêmica visão da psicoterapeuta familiar argentina, especializada em crianças, Laura Gutman, autora do livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”.

Seu livro, longe de pretender ser um guia para mães desesperadas, é um convite para que as mulheres repensem as idéias preconcebidas, os preconceitos e os autoritarismos, encarnados em opiniões discutíveis sobre o parto, os cuidados com os bebês, a educação, as formas de vincular-se e a comunicação entre adultos e crianças.



Entrevista Verónica Podestá

Social e culturalmente, a idéia que se apresenta às mães sobre a chegada de um novo ser é de um fato ideal, feliz e luminoso. È necessária certa audácia para encarar o tema a partir de um “encontro com a própria sombra”. A que você se refere exatamente?

É claro que a sociedade ou o inconsciente coletivo tentem colocar a maternidade num leito de rosas. Quanto mais uma mamãe “compre” esta visão unilateral, mais impactante e mais brutal resultará para ela o encontro com os lugares obscuros que aparecem depois do parto e no puerpério. Eu encaro a maternidade como uma crise, como um rompimento que se produz no parto e nessa quebra se colam partes da sombra, ou seja, pedacinhos de alma ocultos ou desconhecidos até então, que se manifestam através do bebê. Ele se converte em espelho cristalino dos aspectos mais ocultos da mãe, de sua sombra. Por isso, o contato profundo com um bebê é uma grande oportunidade que se deve aproveitar ao máximo.


De que maneira a sombra da mãe se manifesta através do bebê?

Quando um bebê nasce se produz a separação física, mas este corpo recém nascido não é só matéria, mas também um corpo sutil, emocional, espiritual. Ainda que a separação física efetivamente se produza, bebê e mãe seguem fusionados no mundo emocional. O bebê se constitui no sistema de representação da alma da mãe. Tiudo o que a mãe sente, recorda, o que a preocupa, o que rechaça, o bebê o vive como sendo próprio. Porque nestes sentido e momento são dois seres em um. Então a mãe atravessa esse período desdobrada no campo emocional, já que sua alma se manifesta tanto em seu próprio corpo como no corpo do bebê. E o mais incrível é que o bebê sente como próprio tudo o que sente a sua mãe, sobretudo o que ela não pode reconhecer, o que não reside em sua consciência, o que foi relegado à sombra. Então, se um bebê adoece ou chora desmedidamente, ou se está alterado, além de fazermos perguntas no plano físico será necessário atender o corpo espiritual da mãe, reconhecendo que a enfermidade da criança manifesta uma parte da sombra da mãe.


E como a mãe pode canalizar esta manifestação do bebê para seu próprio crescimento?

Se um bebê chora demasiadamente, se não é possível acalmá-lo nem amamentando-o nem aninhando-o, enfim, depois de cobrir as necessidades básicas, a pergunta seria: Porque chora tanto a sua mamãe? Se o bebê não se conecta, parece deprimido, quais são os pensamentos que inundam a mente de sua mãe? Se um bebê rechaça o seio, quais são os motivos que pelos quais a mãe rechaça o bebê? As respostas residem no interior de cada mãe, ainda que não sejam evidentes. Para ali devemos dirigir nossa busca, na medida que a mulher tenha uma genuína intenção de encontrar-se consigo mesma.
Este estado de fusão emocional dura dois anos, tempo em que a mãe experimenta estados alterados de consciência por viver desdobrada em vários campos emocionais. Esta é a loucura do puerpério.


Por que dois anos? Comumente se fala do puerpério como um período que dura cerca de 40 dias.

Se considera puerpério aos primeiros quarenta dias depois do parto, porque se toma como parâmetro a cicatrização da episiotomia, a interdição sexual ou moral, para que o homem não queira exigir genitalidade à mulher. Eu creio que é um fenômeno emocional. Enquanto dura a fusão emocional, dura o puerpério. Por volta dos dois anos a criança começa a separar-se emocionalmente de sua mãe. Até então era bebê-mamãe, um ser totalmente fusionado, que fala de si na terceira pessoa: “Matias quer água”. Aos dois anos começa a dizer “Eu quero água”. Quando se constrói como um ser separado, começa lentamente a separar-se emocionalmente.


Como nasce sua teoria?

Sinceramente, não sei quando nem como nasceu minha “teoria”, já que não a vivo como “teoria”, mas sim como uma prática constante. Basicamente através da observação de centenas de mães se relacionando com seus bebês. Foi muito revelador para mim, quando há cerca de 20 anos li o livro “A Enfermidade como Caminho”, de Dethlefssen e Dahlke, um médico e um astrólogo alemães, ambos junguianos. Comecei a investigar as teoria de Jung em relação à manifestação da sombra, e ao sentir que as crianças pequenas estavam tão involucradas dentro do campo emocional das mães, e vive versa, me ocorreu observar se o que manifestavam – e que eram muitas vezes incompreensíveis para as mães – poderia ser a expressão de situações emocionais que elas não poderiam reconhecer como próprias. É muito frequente que as mães não falem de si mesmas nas consultas, mas sim do que está acontecendo com seus filhos. E foi cada vez mais evidente para mim, que este “jogo” era permanente. Por exemplo, quando eu coordenava grupos de crianças e algum bebê estava muito inquieto, eu tentava induzir à mãe a um olhar interno, íntimo, até que “tocava” num ponto doloroso pessoal, de sua história primária. Mesmo que considerasse que o assunto estava “superado”, quando conseguia falar sobre o tema, o bebê automaticamente parava de chorar. E o grupo era testemunho desta “magia”. Mas não era nada mágico, era a mãe que se apropriava de uma parte de sua sombra, que o bebê estava, de outro modo, obrigado a manifestá-la. Aos poucos fui aprendendo a reconhecer mais rapidamente a linguagem dos bebês e crianças pequenas “fusionadas” ao campo emocional da mãe. Na realidade, o verdadeiro trabalho de busca quem o realiza é a mãe, o meu papel é só o de apoiar a busca genuína, porque cada indivíduo sabe profundamente o que lhe passa. Os bebês são seres sutis, por isso manifestam com total espontaneidade. Neste sentido são verdadeiros espelhos da alma. 


Em seu livro você faz uma distinção entre a dor como algo necessário e positivo para o crescimento, e o sofrimento, desnecessário de destrutivo. Que diferença há entre um e outro?

Quando falo da diferença entre dor e sofrimento, me refiro ao parto em si mesmo. Hoje em dia quase todas as mulheres parem anestesiadas, em partos “induzidos” pela introdução de ocitonina sintética, para regular a duração e a intensidade das contrações. Em geral a mulher não é respeitada, não lhes permitem mover-se, caminhar, comer, ir ao banheiro; ela está atada à cadeira de parto que é terrivelmente incomoda, lhe acomete câimbras nas pernas, lhes rasgam, entram muitas pessoas, médicos e paramédicos, enquanto a mulher está com os genitais expostos, há pouca afetividade e nenhuma intimidade. O marido está atuando, fazendo de conta que é um bom pai moderno. É tanto sofrimento, que as mulheres, ao invés de pedirem contenção, abraços, calor, amor, silêncio, música, água, algo doce para a boca, suavidade... pedem aos gritos por anestesia. E recebem
Se pudéssemos imaginar um parto acompanhado verdadeiramente, com liberdade de movimento, na data verdadeira (ainda que “se atrase”), em intimidade, com uma ou duas pessoas do círculo mais íntimo, a dor seria então o veículo para o recolhimento, para a introspecção, para sair do mundo das formas e entrar no mundo sem limites, sem palavras, sem luzes... é um momento de abertura de consciência. Assim a dor é suportável, é necessária, porque nos permite “sair” do mundo racional, e só fora do mundo racional se pode parir em liberdade. As mulheres que parimos verdadeiramente em liberdade, é que podemos contar o que é o paraíso. 


Não há modelos nem receitas sobre como ser mãe no Século XXI. Qual você crê que seja o maior desafio para as mulheres de hoje?

É certo que na há modelos. O que podemos chamar tradicional, ou seja o que viveram nossas avós, se refere à dona de casa que criou filhos e criou o marido. Muitas delas foram escravas dos desejos dos demais. Hoje em dia, alguma mulheres estamos num pólo aparentemente longínquo, trabalhamos todo o dia, ganhamos dinheiro, as vezes somos bem sucedidas, criativas, independentes. Quando aparece o primeiro filho, na minha opinião, se temos construída toda a nossa identidade no que chamo energia Yang – aspectos concretos do trabalho, dinheiro, relações sociais, etc - isto que nos traz o bebê não tem nada a ver com o “normal”... e tendemos a fugir para os espaços conhecidos: desesperadas para voltar a trabalhar, a ser que éramos antes. Para mim isto também é falta de liberdade interior.
É necessário revisar os acordos do casal anteriores ao nascimento do filho, quando somos capazes de apoiarmos-nos um ao outro e vive versa. Maternar é fundamentalmente conectar-se profundamente com a energia Yin, que é lenta, silenciosa, de tempos prolongados, redonda, quentinha, suave, interna, obscura, pegajosa... Navegar entre as duas energias é para mim um dos principais desafios para as mulheres modernas. Nem fugir do desconhecido, nem alheiarmo-nos do mundo, infantilmente como nossas avós. E saber que há outras pessoas ao redor para ocupar certos espaços por um tempo: o homem será a sustentação para que a mulher possas maternar. E se não há um homem maduro, haverá outras redes, família, amigos, grupos de apoio. Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino.

Publicado em UNO MISMO.

DESTAQUES

“Ainda que a separação física efetivamente se produza no parto, bebê e mãe seguem fusionados no mundo emocional. O bebê se constitui no sistema de representação da alma da mãe”.

“Se um bebê chora demasiadamente, se não é possível acalmá-lo nem amamentando-o nem aninhando-o, a pergunta seria: Porque chora tanto a sua mamãe? Se o bebê não se conecta, parece deprimido, quais são os pensamentos que inundam a mente de sua mãe? Se um bebê rechaça o seio, quais são os motivos que pelos quais a mãe rechaça o bebê?”

“Mesmo que considerasse que o assunto traumático estava “superado”, quando a mãe conseguia falar sobre o tema, o bebê automaticamente parava de chorar. Não era nada mágico, era a mãe que se apropriava de uma parte de sua sombra, que o bebê estava, de outro modo, obrigado a manifestá-la”.

“As mulheres que parimos verdadeiramente em liberdade, é que podemos contar o que é o paraíso”.

“Maternar é fundamentalmente conectar-se profundamente com a energia Yin, que é lenta, silenciosa, de tempos prolongados, redonda, quentinha, suave, interna, obscura, pegajosa... Navegar entre as duas energias, Yin e Yang, é para mim um dos principais desafios para as mulheres modernas”.

“Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino”.


PARIR EM LIBERDADE

“Meu segundo parto foi em Paris, com o doutor Michel Odent. Tinha data para o dia 3 de março, mas no dia 26 começaram as contrações. Como o trabalho de parto, que durou 24 horas, se prolongava, a parteira do hospital me tomou pelo braço e me levou correndo à sala “de partos selvagens”, como a chamavam eles: colchão no chão, almofadas, paredes de madeira, posters e um ...aparelho de som!
Uma mulher de cabelo grande e negro estava parada, sustentada por outra parteira, puxando. Ao ver nascer ao seu bebê, senti o cheiro do sangue fresco e me invadiu tal emoção que acelerou minhas contrações. Minutos depois terminei minha dilatação. Estava meio parada, mas a força do PUJO me fazia ficar acocorada, quase no chão. Vi aparecer meu bebê e o tomei com meus braços enquanto saía suavemente do canal de parto. O bebê nunca chorou. Só sorria. O coloquei no peito, eu chorando. Fio a força do parto de uma mulher desconhecida que me ajudou a “soltar as amarras de meu controle” e possibilitou a entrega.
Depois voltei caminhando para o quarto com meu bebê nos braços.”


Laura Gutman é argentina, terapeuta familiar e escritora.

Tem onze livros publicado, em vários idiomas, além de incontáveis artigos sobre maternidade, paternidade, vínculos primários, desamparo emocional, adicções, violência e metodologias para acompanhar processos de busca pessoal. É colaboradora habitual de numerosas revistas na Argentina e Espanha.
Para difundir e aplicar suas idéias, Laura fundou e dirige “Crianza”, uma instituição com base em Buenos Aires, na qual funciona uma Escola de Formação Profissional para profissionais da saúde e educação, grupos de mães, um serviço de “doulas” (assistentes a domicílio) para mulheres puérperes, seminários breves para profissionais, terapias individuais e de casal e publicações sobre maternidade.

Viste seu site: www.crianza.com.ar


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O QUE É TRANSTORNO BIPOLAR?

O Transtorno Bipolar (TB) é caracterizado por alterações de humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade. É uma condição médica frequente. O TB tipo I, que se caracteriza pela presença de episódios de depressão e de mania, ocorre em cerca de 1% da população geral. Considerando-se os quadros mais brandos do que hoje se denomina “espectro bipolar”, como o Transtorno Bipolar tipo II (caracterizado pela alternância de depressão e episódios mais leves de euforia - hipomania), a prevalência pode chegar a até 8% da população. Assim, estima-se que cerca de 1,8 a 15 milhões de brasileiros sejam portadores do TB, nas suas diferentes formas de apresentação.

A base genética do TB é bem estabelecida: 50% dos portadores apresentam pelo menos um familiar afetado, e filhos de portadores apresentam risco aumentado de apresentar a doença, quando comparados com a população geral.

O TB acarreta incapacitação e grave sofrimento para os portadores e suas famílias. Dados da Organização Mundial de Saúde, ainda na década de 1990, evidenciaram que o TB foi a sexta maior causa de incapacitação no mundo. Estimativas indicam que um portador que desenvolve os sintomas da doença aos 20 anos de idade, por exemplo, pode perder 9 anos de vida e 14 anos de produtividade profissional, se não tratado adequadamente.

A mortalidade dos portadores de TB é elevada, e o suicídio é a causa mais frequente de morte, principalmente entre os jovens. Estima-se que até 50% dos portadores tentem o suicídio ao menos uma vez em suas vidas e 15% efetivamente o cometem. Também doenças clínicas como obesidade, diabetes, e problemas cardiovasculares são mais freqüentes entre portadores de Transtorno Bipolar do que na população geral. A associação com a dependência de álcool e drogas não apenas é comum (41% de dependência de álcool e 12% de dependência de alguma droga ilícita), como agrava o curso e o prognóstico do TB, piora a adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio.




O início dos sintomas na infância e na adolescência é cada vez mais descrito e, em função de peculiaridades na apresentação clínica, o diagnóstico é difícil. Não raramente as crianças recebem outros diagnósticos, o que retarda a instalação de um tratamento adequado. Isso tem conseqüências devastadoras, pois o comportamento suicida pode ocorrer em 25% dos adolescentes portadores de TB.

O tratamento adequado do TB reduz a incapacitação e a mortalidade dos portadores. Em linhas gerais, inclui necessariamente a prescrição de um ou mais estabilizadores do humor em associação (carbonato de lítio, ácido valpróico/valproato de sódio/divalproato de sódio, lamotrigina, carbamazepina, oxcarbazepina). A associação de antidepressivos (de diferentes classes) e de antipsicóticos (em especial os de segunda geração como risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona, aripiprazol) pode ser necessária para o controle de episódios de depressão e de mania.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Autoconhecimento

Você se conhece? 

Essa é uma resposta que respondemos tranquilamente com um: claro que sim! 
Mas eu peço que você pare alguns segundos e repense sobre sua resposta. Continua afirmando que se conhece? 
Ótimo! Então, vamos tirar alguns minutinhos enquanto lê este artigo para uma reflexão sobre si mesmo.  
O que sabe de você? Quais são os momentos que mais marcaram sua vida? Quais são seus pontos positivos, qualidades? Pode descrever uma por uma? E seus pontos negativos? O que tem feito para mudar aquilo que não gosta em você? Já percebeu o quanto você insiste em agradar a outras pessoas? Ou ainda, o quanto busca por reconhecimento e aprovação daqueles com quem convive? Você pode até responder que não faz nada para agradar alguém, e eu insisto, será que não faz mesmo? Quais são as características que você percebe em seus pais e reconhece também em você? 

É, como podemos perceber, não é tão simples assim falarmos sobre nós mesmos, nos conhecermos, não digo superficialmente, mas sim como fruto de muita reflexão.

Já reparou como algumas pessoas tendem a querer saber muito mais da vida de outras pessoas do que das suas próprias vidas? 
Por que os programas de fofoca entre artistas, big-brother, etc, fazem tanto sucesso? 

Parece que é mais fácil olhar para o outro do que para dentro de si mesmo. Essa facilidade pode ser também entendida como fuga, comodismo ou ainda por mecanismos de defesa, tendemos a ficar em nossa zona de conforto, por mais que esteja sendo prejudicial para nós mesmos. Mas muito se esquecem ou nunca souberam que muitas vezes aquilo que estão vendo, e que acabam por censurar, criticar, condenar, julgar, nos outros, pode ser apenas um reflexo de suas próprias imagens. 
Como assim? Quando não se tem autoconhecimento é comum, por exemplo, julgar o comportamento de outra pessoa. E se observamos mais profundamente podemos descobrir que também temos aquele mesmo comportamento. Isso acontece porque utilizamos sem saber o mecanismo que chamamos de projeção, quando por dificuldade em olhar para dentro de nós mesmos projetamos nos outros aquilo que nos diz respeito. Isso não acontece apenas com aspectos negativos, mas também com os positivos. Não vemos em nós mesmos o que parece claro e óbvio nos outros. Esse tipo de mecanismo demonstra na realidade uma pessoa com pouca percepção dos próprios sentimentos, ou seja, pouco autoconhecimento. 

Agora que você sabe disso ou se lembrou, procure ficar mais atento a seus comentários sobre outras pessoas, usando suas observações como fonte de autoconhecimento, identificando que muitas vezes aquele elogio que faz para determinada pessoa, na verdade também há em você, apenas não havia reconhecido. E quando for sobre aspectos negativos também utilize a seu favor, possibilitando mudar aquilo que até então você sequer havia percebido. Tudo pode ser informação para elevar nosso autoconhecimento, só depende do grau de percepção dos sinais e mensagens que nos deparamos no dia a dia.

A tão conhecida frase do filósofo Sócrates - 470 a.C: Conhece-te a ti mesmo, que nada deixou escrito, mas cujos pensamentos foram descritos por Platão, nos faz perceber o quanto somos ignorantes de nós mesmos e quanto é antiga a busca pela consciência de quem somos.
Hoje quando se fala de filmes recentes como O Segredo ou Quem Somos Nós, na verdade são conteúdos antigos com, digamos, uma nova roupagem. Mas o importante é que tudo isso está provocando reflexões sobre o assunto - autoconhecimento - para quem ainda não havia tido acesso a tão profundos ensinamentos. 
Mas um filme que indico é da Louse Hay: Você pode curar sua vida, e que também tem o livro com o mesmo título. É um filme onde através da história de vida dela, nos faz refletir em como estamos conduzindo nossa própria vida.

É preciso parar com a ânsia de tudo pelo outro. Não sou contra o trabalho voluntário, ajudar o próximo, conceitos sobre fraternidade, nada disso, mas está na hora de pensarmos um pouco mais em nossa própria vida, evitando assim, depois de anos de abdicação e dedicação ao outro, seja este quem for, ouvir aquelas célebres frases: fez porque quis, ou ainda, não te pedi nada.
E quantas outras pessoas não se dão conta do quanto se permitiram ser invadidas, agredidas, abusadas, tudo pela dificuldade em impor limites? Por que permitirmos estar em segundo plano? Por que somos tão permissivos em algumas situações? Temos que estar, se não para o outro, mas para nós mesmos, em primeiro lugar. 

Como dita a filosofia do Alcoólatras Anônimos: primeiro eu, segundo eu, terceiro eu.... Isso não quer dizer para sermos egoístas nem negligenciarmos as necessidades de outras pessoas, mas devemos lembrar que também temos as nossas. E quais são? Tudo deve ter equilíbrio, e da mesma maneira que podemos nos preocupar com o outro, devemos, no mínimo, nos preocuparmos com nós mesmos na mesma intensidade. E geralmente não fazemos isso. 
Devemos nos lembrar ainda, que ao fazer pelo outro o que lhe compete ou lhe é de sua responsabilidade, estamos levando-o a não acredite em si mesmo, deixando-lhe a nítida sensação de que não é capaz. E será que é esse o resultado que realmente queremos? Com certeza, desejamos que o outro cresça, mas isso compete a ele. Não podemos permitir que o outro cresça em detrimento de nosso próprio crescimento. 
Todos nós somos capazes de resolver os próprios problemas, fazer nossas próprias escolhas, desde que acreditemos que antes de cuidar da vida dos outros, somos mais capazes de cuidar da nossa própria vida.

(Rosemeire Zago) 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Os pais também precisam de limites?

O estilo devida de pais e mães das novas gerações – e a pressa em resolver tudo – impacta na educação das crianças? O novo livro da filósofa Tania Zagury abre essa discussão.

"Limites importantes são aqueles que têm um sentido educacional e social e que não implicam sacrificar as necessidades da criança aos desejos dospais.” 
Esse é um dos alertas que a filósofa e professora Tania Zagury fazem seu novo livro Filhos: Manual de Instruções, voltado para os pais das chamadas gerações X (que nasceram entre 1960 e 1980) e Y (entre 1980 e 2000, ou até 2010). A obra se preocupa em dar dicas para serem aplicadas na realidade em que as famílias vivem hoje. Conciliar filhos, casamento, trabalho, casa, academia, jantar com amigos, tempo para si mesmo – e dar conta de tudo para ontem – exige ainda mais equilíbrio e bom senso dos pais. Para Tania, eles precisam, de uma vez por todas, entender que a vida muda mesmo. 
“Zelar pela integridade física e emocional dos filhos é um dever dos pais. Abrir mão de alguns interesses pessoais em prol do bem-estar da criança é parte desse conjunto”, afirma.

CRESCER: Você abre o livro dizendo que ele não é para pais com preguiça ou com vontade de sair para a balada, ou que querem soluções mágicas para criar os filhos. Por que foi firme nessa introdução?

Tania Zagury: Fiz isso porque o formato do livro poderia levar a uma interpretação desse tipo. Como procurei facilitar a leitura, alguns desavisados poderiam achar que é para alguém que está com preguiça de ficar com a criança. É para tirar a idéia de que ele vai ser uma varinha de condão, que basta ler etudo acontecerá por milagre. E não vai.

 C.: O que a educação dos pais de hoje difere daquela dos babyboomers, ou seja, os pais ou avós desses pais, e qual o impacto na vida das crianças?

T.Z.: Os babyboomers foram uma geração nascida após a Segunda Grande Guerra [entre 1946 até 1960-64] e quis mudar omundo para melhor. Esses pais deram para os seus filhos a liberdade que não tiveram, principalmente a individual, o direito ao próprio prazer. Isso fez com que as gerações X e Y se tornassem mais voltadas para si mesmas, enquanto os babyboomers eram mais voltados para a conquista do grupo. Junto também aconteceram as mudanças na sociedade, que priorizou o consumo, a urgência, a rapidez. Até nas relações, não há muita persistência, porque é “preciso ser feliz logo”. E isso reflete na educação que dão aos filhos. Eles estão preocupados, têm um amor enorme, até desmedido, mas também não querem se aborrecer tanto. Para a criança não ter um chilique, dá tudo o que ela quer.

C.: E essa característica imediatista dos novos pais torna mais difícil para eles educar os filhos?

T.Z.: Sim. Nada é fácil em educação. Eu sinto que, para o pai imediatista, é duplamente complicado, porque, além de ele ter de vencer a criança na oposição ao que ela não quer, ele tem de vencer a sua tendência a ceder para não se aborrecer. É claro que é preciso escolher batalhas diárias. Se a criança chega em uma idade em que começa a escolher sua roupa, e ela não ficou muito linda, essa batalha não precisa ser discutida. Agora, se não quer escovar o dente, aí tem de brigar. O que se faz nos primeiros anos de vida do filho é fundamental para que ele seja uma pessoa produtiva, capaz de crescer na vida. Para isso precisa entender que tem horas que precisa obedecer.

C.: No livro há um capítulo de como conviver com as diferentes mídias de forma saudável. Deixar o filho assistindo a um DVD parece comodismo. E naqueles momentos que os pais precisam de um tempo para executar outras tarefas, como cuidar de um filho menor que está chorando?

T.Z.: Você pode inteligentemente unir as duas coisas. Ou seja, durante a meia hora ou uma que precisa, por exemplo, para cuidar do filho menor, pode colocar sim um DVD para o outro assistir ou jogar algo que você sabe o que é, que você escolheu. E sempre que puder, envolva-o no que está fazendo.

C.: Você acredita que a culpa dos pais hoje, por passarem menos tempo com os filhos, faz com que algumas regras e limites não sejam tão firmes?

T.Z.: Muitos se sentem culpados, então relevam tudo para não discutir com o filho no tempo que têm ao lado deles. Na verdade, isso precisa ser revisto, porque se deixar a criança fazer tudo, imagina como vai ser depois? Ao mesmo tempo, a culpa pode ser um instrumento para nos tornarmos ótimos pais. Transforme essas duas horas que você passa com seu filho em enorme prazer. Isso não quer dizer ir ao shopping e comprar tudo, e sim ficar em casa mesmo, para jogar um jogo, fazer uma refeição juntos, assistir a um filme de que ele gosta muito e criar o hábito de conversar. Essas duas horas diárias e os fins de semana são mais do que suficientes desde que qualitativas.

C.: E se depois de ler o livro, uma mãe com um filho com 4 ou 5 anos percebe que poderia ter feito muita coisa diferente? Dá tempo de reverter?

T.Z.: Sempre dá tempo de mudar. Até o fim da adolescência dá tempo de consertar o que de repente vemos que fizemos de um jeito não tão ideal. Claro que, quanto mais tarde, mais demorado é o processo. Mas depende também de uma mudança de atitude dos pais, que não podem ir e vir na maneira que estão educando os filhos, senão eles ficam sem referência. Educar dá trabalho, é difícil, é repetitivo, mas o bom é que dá para você reverter sempre, desde que quem educa esteja firmemente imbuído nesse propósito. 




Fonte: http://revistacrescer.globo.com



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Supremo Tribunal Federal reconhece a União Homoafetiva


O Supremo Tribunal Federal reconheceu na última quinta-feira (05/05/11), em decisão unânime, a equiparação da união homossexual à heterossexual. Dez ministros votaram a favor. Eram necessários seis votos favoráveis para o reconhecimento da união estável para casais homossexuais. 

A decisão do STF não é equivalente a uma lei sobre o assunto. O artigo 1.723 do Código Civil estabelece a união estável heterossexual como entidade familiar. O que o Supremo fez foi estender este reconhecimento a casais gays. 

Agora, se um clube, plano de saúde ou outra instituição que vetar o nome de um companheiro homossexual como dependente, por exemplo, o casal pode entrar na Justiça e provavelmente ganhará a causa, pois os juízes tomarão sua decisão com base no que disse o STF sobre o assunto, reconhecendo a união estável. 

A ministra Cármen Lúcia que foi a terceira a votar. Para ela, a Constituição abomina qualquer tipo de preconceito. "A discriminação é repudiada no sistema constitucional vigente", afirmou a ministra, ao dizer que o casal gay também forma uma 'entidade familiar", com direitos e deveres reconhecidos pela legislação brasileira. 

A ministra Ellen Gracie também votou integralmente a favor da equiparação. Ela afirmou "Uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes".

O ministro Marco Aurélio afirmou "As garantias de liberdade religiosa e do Estado laico impedem que concepções morais religiosas guiem o tratamento estatal dispensado a direitos fundamentais, tais como o direito à dignidade da pessoa humana, o direito à autodeterminação, à privacidade e o direito à liberdade de orientação sexual". 

O ministro Celso de Mello deu o nono voto favorável. "Toda pessoa tem o direito de constituir família, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero. Não pode um estado democrático de direito conviver com o estabelecimento entre pessoas e cidadãos com base em sua sexualidade. É inconstitucional excluir essas pessoas", afirmou. 

O último voto foi do presidente do Supremo Tribunal Federal. para Peluso, o julgamento é um "marco histórico, um ponto de partida para novas conquistas", que finalizou a decisão.

Nós da PsicologiaPlenum apoiamos a decisão e acreditamos que esse é um grande passo para garantia da dignidade da pessoa humana.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Manias do Transtorno Bipolar do Humor

O transtorno bipolar do humor é uma doença crônica e recorrente, associada a altos custos econômicos e sociais, incluindo perda de produtividade, piora de qualidade de vida e suicídio. 

Anteriormente, o transtorno bipolar era considerado como doença de bom prognóstico, com boa recuperação entre os episódios. No entanto, cada vez mais tem sido observado que esses indivíduos sofrem de disfunções social, marital, ocupacional e cognitiva, mesmo quando se encontram, supostamente, recuperados.

Esta patologia usualmente se inicia entre os 20 e 30 anos de idade, mas cada vez mais se reconhecem casos em adolescentes e crianças, situação na qual o diagnóstico pode não ser fácil para o psiquiatra especialista na infância e adolescência. A doença pode começar por um episódio de depressão ou de mania. Na mulher, o sintoma inicial mais comum é um episódio de depressão; já os homens iniciam a doença, em geral, com episódio de mania.

O transtorno bipolar não é novo. Ele vem sendo identificado há muito tempo, em diversas épocas, às vezes com distintas denominações, como: Areteus da Capadócia (150 AC): Melancolia, Mania; Falret & Baillarger (1854): Loucura Circular; Griesinger (1867): Transtorno Mental Unitário; Kahlbaum (1882): Ciclotimia; Kraepelin (1899): Psicose Maníaco- Depressiva. Pode ser dividido em tipo I e tipo II, conforme os sistemas de classificação mais aceitos como os da Classificação Internacional de Doenças, atualmente na sua décima edição (CID-10), elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e classificação diagnóstica e estatística dos transtornos mentais e do comportamento da Associação Americana de Psiquiatria, atualmente na sua quarta edição revisada (DSM-IV-TR).

No tipo I, mais grave, são observados episódios de mania alternados com episódios depressivos e também períodos de relativa normalidade, denominados de eutimia. As fases maníacas ou os estados mistos (estados em que ocorrem sintomas de mania e depressão concomitantemente) não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem tampouco as depressivas por maníacas. Muitas vezes um indivíduo que teve o episódio anterior de mania pode vir a apresentar um novo episódio maníaco, e o mesmo é válido para depressão.

Em geral, os indivíduos com a sequência depressão - mania tendem a ser mais difíceis de tratar e podem particularmente responder mal ao Lítio, padrão-ouro no tratamento da enfermidade bipolar. Há casos de pacientes que terão em suas vidas mais episódios maníacos do que depressivos; alguns outros irão relatar um ou dois episódios de mania e inúmeras fases depressivas.

O transtorno bipolar é uma condição recorrente. Aproximadamente 90% dos indivíduos que apresentam um episódio maníaco terão uma recorrência nos próximos anos. O diagnóstico costuma demorar de 8 a 10 anos para ser feito. No transtorno bipolar tipo I, podem ocorrer sintomas como delírios e alucinações, tanto na fase de mania quanto na de depressão, podendo o diagnóstico ser confundido com o de outras doenças, como esquizofrenia. Se um indivíduo apresenta quatro ou mais episódios da doença em um ano ele é considerado um ciclador rápido.

DIAGNÓSTICO DIFÍCIL 

No transtorno bipolar tipo II, ocorrem episódios depressivos e hipomaníacos, em geral de duração mais curta e menos frequentes do que as fases depressivas. Muitas vezes, o diagnóstico é difícil, podendo demorar cerca de 13 anos. A hipomania assemelha-se à mania, contudo é um quadro com menor intensidade sintomatológica. Muitos indivíduos com transtorno bipolar tipo II passam anos com um tratamento inadequado, utilizando antidepressivos (o que piora o curso da doença), ao invés de estabilizadores do humor. 

Na hipomania, ocorrem hiper-reatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido/sexo, e impaciência. Por definição, a hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não requer hospitalização e o prejuízo ao paciente não é tão grande quanto na mania.

A demora no diagnóstico do transtorno bipolar pode se dever a dificuldades de identificação dos episódios hipomaníacos (esse episódios podem ser tão breves com duração de 4 dias, por exemplo). O paciente, assim como seus familiares e amigos, podem considerar esses períodos de “maior extroversão” como normais e até desejáveis. Contudo, o não tratamento desses indivíduos pode, com o tempo, levar a prejuízos emocionais, morais e materiais para eles próprios e seus familiares.

A mania, por ser uma condição mais grave do que a hipomania, requer tratamento vigoroso, que deve ser realizado em local seguro, no qual o paciente não tenha estímulos excessivos. 

O objetivo principal, aqui, é o da resolução dos sintomas da forma mais rápida e segura possível. Os antipsicóticos podem acelerar a respostcelera respo a terapêutica na mania, quando associados a um estabilizador de humor. O uso de antipsicóticos atípicos (ou antipsicóticos de nova geração) tem sido, em geral, preferido.

Importância especial deve se dar ao reconhecimento dos estados mistos. Episódios mistos são encontrados em 30% a 40% dos indivíduos com transtorno bipolar. Os indivíduos em estado misto apresentam-se com maiores níveis de ansiedade, taxas aumentadas de psicose e suicídio e pior prognóstico. 


(Eduardo Pondé Sena. Publicado na Revista Psique)


sexta-feira, 8 de abril de 2011

METÁFORAS E PSICOTERAPIA

No processo psicoterapêutico costumo utilizar algumas metáforas como um recurso facilitador de insight, e assim clarear alguns questionamentos que perduram constantemente, as vezes fica díficil colocar em palavras sentimentos únicos. Então, a metáfora é um tipo de linguagem que pode ajudar a traduzir alguns sentimentos e rever atitudes.

Escolhi a metáfora da ostra e a pérola que demonstra um pouco do muito que passamos!


Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas...

Pérolas são produtos da dor; resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou grão de areia.

Na parte interna da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia a penetra, ás células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra.

Como resultado, uma linda pérola vai se formando.

Uma ostra que não foi ferida, de modo algum produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.
O mesmo pode acontecer conosco. Se você já sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? Suas idéias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Você já sofreu o duro golpe do preconceito? Já recebeu o troco da indiferença?

Então, produza uma pérola!

Cubra suas mágoas com várias camadas de amor.

Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de movimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, mágoas, deixando as feridas abertas e alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e, portanto, não permitindo que cicatrizem.

Assim, na prática, o que vemos são muitas "Ostras Vazias", não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor.

Um sorriso, um olhar, um gesto, na maioria das vezes, vale mais do que mil palavras.
  
 (autor desconhecido)


quinta-feira, 10 de março de 2011

Escolhas

 Percebo que somos fruto de nossas escolhas, fazer escolhas é o que nos move e este texto retrata um ponto que sempre trabalho em psicoterapia, espero que gostem:

...
                                                                          
 Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for, ou viver infeliz por não ser quem você gostaria.

Você pode assumir sua individualidade, ou reprimir seus talentos e sonhos, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse.

Você pode produzir-se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar, ou dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas são fúteis, não sérias e bem situadas como você.

Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as outras pessoas, ou com aquele olhar de censura, que poda, pune, fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos, limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus.

Você pode amar e deixar-se amar de maneira incondicional, ou ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta.

Você pode ouvir o seu coração e viver apaixonadamente ou agir de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar a vida antes de vivê-la.

Você pode deixá-la como está para ver como é que fica ou com paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias na sua vida e no mundo à sua volta.

Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos ou partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de ganhar.

Você pode amaldiçoar sua sorte, ou encarar a situação como uma grande oportunidade de crescimento que a Vida lhe oferece.

Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados para todas as suas insatisfações, ou encarar a verdade de que, no fim das contas, sempre você é quem decide o tipo de vida que quer levar.

Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas, caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas, avanços e retrocessos, ou continuar acreditando que ele já estava escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer.

Você pode viver o presente que a Vida lhe dá, ou ficar preso a um passado que já acabou e portanto não há mais nada a fazer -, ou a um futuro que ainda não veio – e que portanto não lhe permite fazer nada.

Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que você é e possui, ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por não ser ou não possuir tudo o que você gostaria.

Você pode engajar-se no mundo, melhorando a si próprio e,por conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta, ou esperar que o mundo melhore para que então você possa melhorar.

Você pode continuar escravo da preguiça, ou comprometer-se com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o seu Plano de Vida.

Você pode aprender o que ainda não sabe, ou fingir que já sabe tudo e não precisa aprender nada mais.

Você pode ser feliz com a vida como ela é, ou passar todo o seu tempo se lamentando pelo que ela não é.


A escolha é sua.

E o importante, é que você sempre tem escolha.

Pondere bastante ao se decidir, pois é você quem vai carregar - sozinho e sempre – o peso das escolhas que fizer...


(Luis Borges)

 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ACEITAÇÃO (o início da transformação)


A primeira impressão que temos quando ouvimos ou pensamos em aceitar, seja uma pessoa, um fato ou uma circunstância é de que estaremos nos submetendo ou nos subjugando, desistindo de lutar, sendo fracos.

De verdade, se quisermos modificar qualquer aspecto da nossa vida e de nós mesmos, devemos começar aceitando.

A aceitação é detentora de um poder transformador que só quem já experimentou pode avaliar.

É difícil aceitar uma perda material ou afetiva; uma dificuldade financeira; uma doença; uma humilhação; uma traição.

Mas a aceitação é um ato de força interior, sabedoria e humildade, pois existem inúmeras situações que não estão sob o nosso controle.

As pessoas são como são, dificilmente mudam. Não podemos contar com isso. A única pessoa que podemos mudar, somos nós mesmos, portanto, se não houver aceitação, o que estaremos fazendo é insensato, é insano. Ser resistente, brigar, revoltar-se, negar, deprimir, desesperar, indignar-se, culpar, culpar-se são reações emocionais carregadas de raiva. Raiva do outro, raiva de si mesmo, raiva da vida. E a raiva destrói, desagrega.

A aceitação é uma força que desconhecemos porque somos condicionados a lutar, a esbravejar, a brigar.

Aceitar não é desistir, nem tão pouco resignar-se. Aceitar é estar lúcido do momento presente e se assim a vida se apresenta, assim deve ser. Tudo está coordenado pela Lei da ação e reação.

No instante em que aceitamos, desmaterializamos situações que foram criadas por nós, soluções surgem naturalmente através da intuição ou fatos trazem as respostas e as saídas para o problema.

Tudo é movimento. Nada é permanente.

A nossa tendência “natural” é resistir, não aceitar, combater tudo o que nos contraria e o que nos gera sofrimento. Dessa forma prolongamos a situação. Resistir só nos mantém presos dentro da situação desconfortável, muitas vezes perpetuando e tornando tudo mais complicado e pesado.

Quando não aceitamos nos tornamos amargos, revoltados, frustrados, insatisfeitos, cheios de rancor e tristeza, e esses padrões mentais e emocionais criam mais dificuldades, nunca trazem solução.

Aceitar é expandir a consciência e encontrar respostas, soluções, alívio. Aceitar é o que nos dá confiança.

É fundamental entender que aceitar não significa desistir e seguir adiante com otimismo.

Ter muitos propósitos a serem atingidos é nossa atitude saudável diante da vida.
Aceitar se refere ao momento presente, ao agora.

No instante que você aceita, você se entrega ao que a vida quer-lhe oferecer. Novas idéias surgem para prosseguir na direção desejada, saindo do sofrimento.

(Ana Cristina Pereira)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nos transformamos em nossos encontros ...


ATRITE-SE

Ninguém muda ninguém;
ninguém muda sozinho;
nós mudamos nos encontros.

Simples, mas profundo, preciso.
É nos relacionamentos que nos transformamos.
Somos transformados a partir dos
encontros, desde que estejamos abertos e livres
para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro.

Você já viu a diferença que há entre as pedras
que estão na nascente de um rio,e as pedras que estão
em sua foz?

As pedras na nascente são toscas,
pontiagudas, cheias de arestas.
À medida que elas vão sendo carregadas
pelo rio, sofrendo a ação da água
e se atritando com as outras pedras,
ao longo de muitos anos,
elas vão sendo polidas, desbastadas.
Assim também agem nossos contatos humanos.
Sem eles, a vida seria monótona, árida.

A observação mais importante é constatar
que não existem sentimentos, bons ou ruins,
sem a existência do outro, sem o seu contato.
Passar pela vida sem se permitir
um relacionamento próximo com o outro,
é não crescer, não evoluir, não se transformar.
É começar e terminar a existência
com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.

Quando olho para trás, vejo que
hoje carrego em meu ser
várias marcas de pessoas extremamente importantes.
Pessoas que, no contato com elas,
me permitiram ir dando forma ao que sou,
eliminando arestas, transformando-me em alguém melhor,
mais suave, mais harmônico, mais integrado.
Outras, sem dúvida, com suas ações e
palavras me criaram novas arestas, que precisaram ser desbastadas.
Faz parte...
Reveses momentâneos servem para o crescimento.
A isso chamamos experiência.

Penso que existe algo mais profundo ainda nessa análise.
Começamos a jornada da vida como grandes pedras, cheias de
excessos.

Os seres de grande valor percebem que ao final da vida,
foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas,
se aproximando cada vez mais de sua essência,
e ficando cada vez menores, menores, menores...

Quando finalmente aceitamos que somos pequenos,
ínfimos, dada a compreensão da existência
e importância do outro,
é que finalmente nos tornamos grandes em valor.

Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado?

Sabemos quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago.
É lá que está o verdadeiro valor...




Pois cada um de nós temos um âmago bem forte
e muito parecido com o diamante bruto,
constituído de muitos elementos, mas essencialmente de AMOR.
E cada um de nós temos essa capacidade, a de AMAR...
Mas temos que aprender como.

Para chegarmos a esse âmago, temos que nos permitir,
através dos relacionamentos, ir desbastando todos os excessos
que nos impedem de usá-lo, de fazê-lo brilhar.

Por muito tempo em minha vida acreditei
que amar significava evitar sentimentos ruins.
Não entendia que ferir e ser ferido,
ter e provocar raiva, ignorar e ser ignorado
faz parte da construção do aprendizado do amor.
Não compreendia que se aprende a amar
sentindo todos esses sentimentos contraditórios
e...principalmente os superando.

Ora, esses sentimentos simplesmente
não ocorrem se não houver envolvimento...
E envolvimento gera atrito.

Minha palavra final: ATRITE-SE!
Não existe outra forma de descobrir o AMOR.
E sem ele a VIDA não tem significado.


(Roberto Crema)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Aceita-me como sou!

Recebi esta mensagem de uma amiga e gostaria de compartilhar, pois é uma reflexão muito interesante para o ínicio de um novo ano...

Aceita-me como sou! Não tente me mudar! Eu nasci assim, cresci assim e provavelmente vou morrer assim. Se você me ama... deve me aceitar como sou!

Alguém já ouviu isso? Já disse isso?

É uma súplica. É, na verdade, uma maneira de dizer, sem usar palavras, que não aceitamos mudanças, nem queremos que nos mudem. Nós somos o que somos e pronto!

Mas se todo mundo se mantiver nessa posição, cada um vai ficar isolado. Porque na realidade, não podemos mudar a nós e nossa personalidade por causa de ninguém, nem deixar que façam o que querem de nós, mas é tremendamente egoísta dizer "aceita-me como sou" que significa de fato "não estou disposto a fazer nenhum esforço para me adaptar ao "seu" jeito de ser.

Relacionamentos são compromissos. Se não há flexibilidade de parte e de outra e uma disposição para se guardar e ao mesmo tempo se adaptar à personalidade do outro, não há relacionamento que funcione.

E se essa prédisposição a se adaptar só ocorre de um lado, também não funciona. Se devemos aceitar a outra pessoa exatamente como ela é, mas nós devemos nos ajustar a ela para que continuemos juntos, não há equilíbrio na relação. E é injusto.

Em todo relacionamento é preciso que haja contrabalanceamento. Cada um se esforça um pouco, põe o orgulho e as idéias fixas do lado e ambos encontram um meio de continuar no mesmo caminho.

Somos humanos e podemos ser flexíveis se nosso coração nos pede. Isso não nos diminui, mas pelo contrário, nos engrandece.

Que ninguém nos molde! Que não sejamos também marionetes! Mas que tenhamos amor suficiente no coração para reconhecermos sozinhos os pontos aos quais podemos ceder para a felicidade da pessoa que convive conosco.

Se ambos tiverem a riqueza de espírito de pensar assim, a caminhada juntos será longa, eternamente longa...
 
(Letícia Thompson)