sexta-feira, 27 de maio de 2011

Os pais também precisam de limites?

O estilo devida de pais e mães das novas gerações – e a pressa em resolver tudo – impacta na educação das crianças? O novo livro da filósofa Tania Zagury abre essa discussão.

"Limites importantes são aqueles que têm um sentido educacional e social e que não implicam sacrificar as necessidades da criança aos desejos dospais.” 
Esse é um dos alertas que a filósofa e professora Tania Zagury fazem seu novo livro Filhos: Manual de Instruções, voltado para os pais das chamadas gerações X (que nasceram entre 1960 e 1980) e Y (entre 1980 e 2000, ou até 2010). A obra se preocupa em dar dicas para serem aplicadas na realidade em que as famílias vivem hoje. Conciliar filhos, casamento, trabalho, casa, academia, jantar com amigos, tempo para si mesmo – e dar conta de tudo para ontem – exige ainda mais equilíbrio e bom senso dos pais. Para Tania, eles precisam, de uma vez por todas, entender que a vida muda mesmo. 
“Zelar pela integridade física e emocional dos filhos é um dever dos pais. Abrir mão de alguns interesses pessoais em prol do bem-estar da criança é parte desse conjunto”, afirma.

CRESCER: Você abre o livro dizendo que ele não é para pais com preguiça ou com vontade de sair para a balada, ou que querem soluções mágicas para criar os filhos. Por que foi firme nessa introdução?

Tania Zagury: Fiz isso porque o formato do livro poderia levar a uma interpretação desse tipo. Como procurei facilitar a leitura, alguns desavisados poderiam achar que é para alguém que está com preguiça de ficar com a criança. É para tirar a idéia de que ele vai ser uma varinha de condão, que basta ler etudo acontecerá por milagre. E não vai.

 C.: O que a educação dos pais de hoje difere daquela dos babyboomers, ou seja, os pais ou avós desses pais, e qual o impacto na vida das crianças?

T.Z.: Os babyboomers foram uma geração nascida após a Segunda Grande Guerra [entre 1946 até 1960-64] e quis mudar omundo para melhor. Esses pais deram para os seus filhos a liberdade que não tiveram, principalmente a individual, o direito ao próprio prazer. Isso fez com que as gerações X e Y se tornassem mais voltadas para si mesmas, enquanto os babyboomers eram mais voltados para a conquista do grupo. Junto também aconteceram as mudanças na sociedade, que priorizou o consumo, a urgência, a rapidez. Até nas relações, não há muita persistência, porque é “preciso ser feliz logo”. E isso reflete na educação que dão aos filhos. Eles estão preocupados, têm um amor enorme, até desmedido, mas também não querem se aborrecer tanto. Para a criança não ter um chilique, dá tudo o que ela quer.

C.: E essa característica imediatista dos novos pais torna mais difícil para eles educar os filhos?

T.Z.: Sim. Nada é fácil em educação. Eu sinto que, para o pai imediatista, é duplamente complicado, porque, além de ele ter de vencer a criança na oposição ao que ela não quer, ele tem de vencer a sua tendência a ceder para não se aborrecer. É claro que é preciso escolher batalhas diárias. Se a criança chega em uma idade em que começa a escolher sua roupa, e ela não ficou muito linda, essa batalha não precisa ser discutida. Agora, se não quer escovar o dente, aí tem de brigar. O que se faz nos primeiros anos de vida do filho é fundamental para que ele seja uma pessoa produtiva, capaz de crescer na vida. Para isso precisa entender que tem horas que precisa obedecer.

C.: No livro há um capítulo de como conviver com as diferentes mídias de forma saudável. Deixar o filho assistindo a um DVD parece comodismo. E naqueles momentos que os pais precisam de um tempo para executar outras tarefas, como cuidar de um filho menor que está chorando?

T.Z.: Você pode inteligentemente unir as duas coisas. Ou seja, durante a meia hora ou uma que precisa, por exemplo, para cuidar do filho menor, pode colocar sim um DVD para o outro assistir ou jogar algo que você sabe o que é, que você escolheu. E sempre que puder, envolva-o no que está fazendo.

C.: Você acredita que a culpa dos pais hoje, por passarem menos tempo com os filhos, faz com que algumas regras e limites não sejam tão firmes?

T.Z.: Muitos se sentem culpados, então relevam tudo para não discutir com o filho no tempo que têm ao lado deles. Na verdade, isso precisa ser revisto, porque se deixar a criança fazer tudo, imagina como vai ser depois? Ao mesmo tempo, a culpa pode ser um instrumento para nos tornarmos ótimos pais. Transforme essas duas horas que você passa com seu filho em enorme prazer. Isso não quer dizer ir ao shopping e comprar tudo, e sim ficar em casa mesmo, para jogar um jogo, fazer uma refeição juntos, assistir a um filme de que ele gosta muito e criar o hábito de conversar. Essas duas horas diárias e os fins de semana são mais do que suficientes desde que qualitativas.

C.: E se depois de ler o livro, uma mãe com um filho com 4 ou 5 anos percebe que poderia ter feito muita coisa diferente? Dá tempo de reverter?

T.Z.: Sempre dá tempo de mudar. Até o fim da adolescência dá tempo de consertar o que de repente vemos que fizemos de um jeito não tão ideal. Claro que, quanto mais tarde, mais demorado é o processo. Mas depende também de uma mudança de atitude dos pais, que não podem ir e vir na maneira que estão educando os filhos, senão eles ficam sem referência. Educar dá trabalho, é difícil, é repetitivo, mas o bom é que dá para você reverter sempre, desde que quem educa esteja firmemente imbuído nesse propósito. 




Fonte: http://revistacrescer.globo.com



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Supremo Tribunal Federal reconhece a União Homoafetiva


O Supremo Tribunal Federal reconheceu na última quinta-feira (05/05/11), em decisão unânime, a equiparação da união homossexual à heterossexual. Dez ministros votaram a favor. Eram necessários seis votos favoráveis para o reconhecimento da união estável para casais homossexuais. 

A decisão do STF não é equivalente a uma lei sobre o assunto. O artigo 1.723 do Código Civil estabelece a união estável heterossexual como entidade familiar. O que o Supremo fez foi estender este reconhecimento a casais gays. 

Agora, se um clube, plano de saúde ou outra instituição que vetar o nome de um companheiro homossexual como dependente, por exemplo, o casal pode entrar na Justiça e provavelmente ganhará a causa, pois os juízes tomarão sua decisão com base no que disse o STF sobre o assunto, reconhecendo a união estável. 

A ministra Cármen Lúcia que foi a terceira a votar. Para ela, a Constituição abomina qualquer tipo de preconceito. "A discriminação é repudiada no sistema constitucional vigente", afirmou a ministra, ao dizer que o casal gay também forma uma 'entidade familiar", com direitos e deveres reconhecidos pela legislação brasileira. 

A ministra Ellen Gracie também votou integralmente a favor da equiparação. Ela afirmou "Uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes".

O ministro Marco Aurélio afirmou "As garantias de liberdade religiosa e do Estado laico impedem que concepções morais religiosas guiem o tratamento estatal dispensado a direitos fundamentais, tais como o direito à dignidade da pessoa humana, o direito à autodeterminação, à privacidade e o direito à liberdade de orientação sexual". 

O ministro Celso de Mello deu o nono voto favorável. "Toda pessoa tem o direito de constituir família, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero. Não pode um estado democrático de direito conviver com o estabelecimento entre pessoas e cidadãos com base em sua sexualidade. É inconstitucional excluir essas pessoas", afirmou. 

O último voto foi do presidente do Supremo Tribunal Federal. para Peluso, o julgamento é um "marco histórico, um ponto de partida para novas conquistas", que finalizou a decisão.

Nós da PsicologiaPlenum apoiamos a decisão e acreditamos que esse é um grande passo para garantia da dignidade da pessoa humana.