sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PSICOLOGIA POSITIVA E RESILIÊNCIA

A PSICOLOGIA POSITIVA

Durante todo o ano de 1998, Martin Seligman, na condição de presidente da American Psychological Association, escreveu artigos mensais que focalizavam a necessidade de mudança no foco das contribuições da Psicologia, ainda centrado numa prática historicamente orientada para a compreensão e tratamento de patologias. Segundo esse importante pesquisador, a ciência psicológica tem "esquecido" ou negligenciado a sua mais importante missão: a de construir uma visão de ser humano com ênfase em aspectos "virtuosos".

Nesta ótica, o movimento intitulado Psicologia Positiva e é definido como uma "tentativa de levar os psicólogos contemporâneos a adotarem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas". Tendo em vista esta perspectiva, a ciência psicológica busca transformar velhas questões em novas possibilidades de compreensão de fenômenos psicológicos como felicidade, otimismo, altruísmo, esperança, alegria, satisfação e outros temas humanos, tão importantes para a pesquisa quanto depressão, ansiedade, angústia e agressividade.

Trata-se, portanto, de uma psicologia que almeja antes de tudo romper com o viés "negativo" e reducionista de algumas tradições epistemológicas que têm adotado o ceticismo diante de expressões salutogênicas de indivíduos, grupos ou comunidades. Entretanto, postular uma ciência que focalize potencialidades e qualidades humanas exige tanto esforço, reflexão e seriedade conceitual, teórica e metodológica quanto o estudo de distúrbios e desordens humanas. Na esteira destas iniciativas, alguns fenômenos indicativos de "vida saudável" têm sido referidos como sistemas de adaptação ao longo do desenvolvimento, dentre os quais destaco a resiliência.


O CONCEITO DE RESILIÊNCIA
Resiliência é freqüentemente referida por processos que explicam a "superação" de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações. Por tratar-se de um conceito relativamente novo no campo da Psicologia, a resiliência vem sendo bastante discutida do ponto de vista teórico e metodológico pela comunidade científica. Alguns estudiosos reconhecem a resiliência como um fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano, e outros enfatizam a necessidade de cautela no uso "naturalizado" do termo .

Na língua portuguesa, a palavra resiliência, aplicada às ciências sociais e humanas, vem sendo utilizada há poucos anos. Neste sentido, seu uso no Brasil ainda se restringe a um grupo bastante limitado de pessoas de alguns círculos acadêmicos. Muitos profissionais da área da Psicologia, da Sociologia ou da Educação nunca tiveram contato com a palavra e desconhecem seu uso formal ou informal, bem como sua aplicação em qualquer das áreas da ciência. Por outro lado, profissionais das áreas da Engenharia, Ecologia e Física, e até mesmo da Odontologia, revelam certa familiaridade com a palavra, quando ela se refere à resistência de materiais.

Nos diferentes países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, a palavra resiliência vem sendo utilizada com freqüência, não só por profissionais das ciências sociais e humanas, mas também em referências da mídia a pessoas, lugares, ações e coisas em geral. Uma pesquisadora canadense (Martineau, 1999) cita, em seu importante trabalho de doutorado sobre resiliência, alguns exemplos das contradições deste uso coloquial, quando pessoas famosas são consideradas "resilientes" pela mídia tanto por tolerarem como por terminarem seus casamentos. Pessoas ou coisas (desde pneus de carros até cremes para a pele) que tanto resistem como provocam mudanças também são descritas como "resilientes" nos comerciais de jornais ou TV. Em diálogos informais, as pessoas classificam-se como "resilientes" ou "não resilientes", o que sugere uma "objetificação" ou "coisificação" do conceito.

Não obstante, no Brasil, a palavra resiliência e seus significados ainda permanecem como "ilustres desconhecidos" para a grande maioria das pessoas, enquanto nos países mencionados acima o termo é inclusive muito utilizado para referendar e direcionar programas políticos de ação social e educacional, o que aqui (talvez felizmente...) ainda parece estar longe de acontecer.

Para melhor exemplificar a diferença cultural nas prioridades de significado da palavra resiliência nas línguas portuguesa e inglesa, recorreu-se a dicionários atualizados. O dicionário de língua portuguesa de autoria de Ferreira (1999), conhecido como Novo Aurélio, diz que, na Física, resiliência "é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica". No sentido figurado, o mesmo dicionário aponta o termo como "resistência ao choque". O dicionário de língua inglesa Longman Dictionary of Contemporary English (1995) oferece duas definições de resiliência, sendo a primeira: "habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc.: resiliência de caráter". A segunda explicação para o termo encontrada no mesmo dicionário afirma que resiliência "é a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade".

Como se pode ver, os dois dicionários apontam para conceituações semelhantes e ao mesmo tempo divergentes, pois no dicionário de português a referência é feita apenas à resiliência de materiais, e mesmo no sentido figurado, nada é especificamente claro para a compreensão do que seja a resiliência quando se trata de pessoas. Já o dicionário de inglês confirma a prioridade ou maior familiaridade para o uso do termo em fenômenos humanos, apontando em primeiro plano a definição neste sentido.

Acesse o artigo na integra:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722003000300010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

4 comentários:

  1. Boa noite sou aluna do primeiro ano de Educação Social, quero deixar-lhe como nota um livro que terminei de ler, achei interessante partilhar consigo, uma vez que gostei do seu post sobre resiliência. “Para a compreensão do abandono escolar”
    Capitulo 2. O conceito de Resiliência em Educação de José Manuel Canavarro.
    Com os melhores cumprimentos
    Mónica R.

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  2. Prezados,sou estudante de Psicologia e quando escutei pela primeira vez sobre o assunto, logo me identifiquei com o tema.Desta forma resolvi estudar as poucas coisas que fala do assunto para o meu tcc no fim do ano.

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  3. Obrigada pela dica Monica!

    E espero que este o artigo tenha agregado.

    Qualquer novidade é só postarem.

    Abraços,

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  4. Gostei muito do seu artigo em que articula a psicologia positiva com a resiliencia. Gostaria se souber de me enviar titulos de livros que falassem sobre a resiliencia. obrigado!

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