quinta-feira, 24 de julho de 2014

Cicatrizes necessárias, questionando sobre perdas




Ando me perguntando há dias qual a real extensão em nosso ser frente a uma perda?
Estou questionando todo e qualquer tipo de perda, pois nesses últimos meses aconteceram alguns eventos em minha vida como doenças, separações, perda de objetos, mudanças, crises e lutas internas e acontecimentos no mundo como os conflitos em Gaza e a situação do nosso país, que me fazem olhar de perto a rivalidade entre perdas e ganhos. E de como nossa fragilidade, o sentir e o pesar frente a estes acontecimentos alguns corriqueiros outros eminentes nos faz ser humano.
O fato é que somos humanos e não queremos perder, sempre ouço e vejo tantas queixas, antes mesmo de estar no consultório e ter a escuta terapêutica, percebo a dificuldade em encarar e aceitar as perdas e a angustia de estar perdido frente a tantas perdas, me transporta a tentar ter o máximo de entendimento a algo tão certo.
Mas, volto a perguntar qual é a extensão disso tudo?

Dor?
Apego?
Falta?
Medo?
Tristeza?
Angustia?

Sabemos que é impossível quantificar a extensão dos sentimentos "serão necessários meses, talvez anos, para que a mente e a memória reúnam os detalhes e compreendam a verdadeira extensão da perda." (Viorst, 2011)
Ou seja, a extensão em nosso ser além de ser vasta, é sofrida, sacrificante, pesada, arrastada, mas como ser diferente?
Lutamos para não perder, não queremos sofrer, nosso desejo é só o de ganhar ou no mínimo manter como está: estagnado, na acomodação, tudo a favor do ganho, sem perder, sem mexer, sem mudar.
Percebam aí o pulo do gato...
A importância de uma perda então faz com que automaticamente saiamos da zona de conforto, para o enfrentamento e talvez superação do fato ocorrido. Exigindo uma ressignificação da perda, mudando olhares, encarando o fato como algo necessário e inevitável.
Assim se aceita, há mudanças, fecha-se um ciclo e como forma de pagamento o estar e continuar na vida, assustadoramente ganhar a vida a partir dessas perdas, porque elas nunca cessarão.
Continuar em frente, aceitar e superar seria o ideal para cicatrizar essa ferida, essa dor na alma, porém é bem mais fácil quando entendemos, controlamos, quando não estamos sozinhos, quando conhecemos os sentimentos e sentindo verdadeiramente a dor da perda do objeto perdido, vivendo o luto, realmente seria o ideal, mas nem sempre é o real.
Após esta reflexão me vem outra pergunta:
E os sentimentos negados, aqueles desconhecidos, aqueles pertencentes à sombra, como reconhecê-los frente à vulnerabilidade de uma perda?
Não me vem a resposta, talvez não a tenha, possuo ainda mais questionamentos frente a estas reflexões, mas a seguinte frase acalenta:
"Pois não se pode amar profundamente alguma coisa sem se tornar vulnerável à perda. E não se pode ser um indivíduo separado, responsável, com conexões, pensante, sem alguma perda, alguma desistência, alguma renúncia."

Escrito por Daniela Julianetti
Psicóloga e psicoterapeuta
 

Bibliografia:

Viorst, Judith. Perdas necessárias. 2011

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