Ando me
perguntando há dias qual a real extensão em nosso ser frente a uma perda?
Estou
questionando todo e qualquer tipo de perda, pois nesses últimos meses aconteceram
alguns eventos em minha vida como doenças, separações, perda de objetos, mudanças, crises e lutas internas e acontecimentos no mundo como os conflitos em Gaza e a situação do nosso país, que me fazem olhar de perto a
rivalidade entre perdas e ganhos. E de como nossa fragilidade, o sentir e o
pesar frente a estes acontecimentos alguns corriqueiros outros eminentes nos faz ser
humano.
O fato é que
somos humanos e não queremos perder, sempre ouço e vejo tantas queixas, antes
mesmo de estar no consultório e ter a escuta terapêutica, percebo a dificuldade em encarar e aceitar as perdas
e a angustia de estar perdido frente a tantas perdas, me transporta a tentar ter o máximo de entendimento a algo tão certo.
Mas, volto a
perguntar qual é a extensão disso tudo?
Dor?
Apego?
Falta?
Medo?
Tristeza?
Angustia?
Sabemos que
é impossível quantificar a extensão dos sentimentos "serão necessários
meses, talvez anos, para que a mente e a memória reúnam os detalhes e
compreendam a verdadeira extensão da perda." (Viorst, 2011)
Ou seja, a
extensão em nosso ser além de ser vasta, é sofrida, sacrificante, pesada, arrastada, mas
como ser diferente?
Lutamos para
não perder, não queremos sofrer, nosso desejo é só o de ganhar ou no mínimo manter
como está: estagnado, na acomodação, tudo a favor do ganho, sem perder, sem
mexer, sem mudar.
Percebam aí o
pulo do gato...
A importância
de uma perda então faz com que automaticamente saiamos da zona de conforto,
para o enfrentamento e talvez superação do fato ocorrido. Exigindo uma ressignificação
da perda, mudando olhares, encarando o fato como algo necessário e
inevitável.
Assim se
aceita, há mudanças, fecha-se um ciclo e como forma de pagamento o estar e
continuar na vida, assustadoramente ganhar a vida a partir dessas perdas, porque
elas nunca cessarão.
Continuar em
frente, aceitar e superar seria o ideal para cicatrizar essa ferida, essa dor na
alma, porém é bem mais fácil quando entendemos, controlamos, quando
não estamos sozinhos, quando conhecemos os sentimentos e sentindo
verdadeiramente a dor da perda do objeto perdido, vivendo o luto, realmente seria o ideal, mas nem sempre é o real.
Após esta
reflexão me vem outra pergunta:
E os
sentimentos negados, aqueles desconhecidos, aqueles pertencentes à sombra, como
reconhecê-los frente à vulnerabilidade de uma perda?
Não me vem a
resposta, talvez não a tenha, possuo ainda mais questionamentos frente a estas
reflexões, mas a seguinte frase acalenta:
"Pois não se pode amar profundamente alguma coisa sem se tornar
vulnerável à perda. E não se pode ser um indivíduo separado, responsável, com
conexões, pensante, sem alguma perda, alguma desistência, alguma
renúncia."
Escrito por Daniela Julianetti
Psicóloga e psicoterapeuta
Bibliografia:
Viorst, Judith. Perdas necessárias.
2011
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